BILHETE POSTAL
Por Eduardo Costa
A União Europeia anda confusa. Éramos aquele menino-adulto mimado que não sai do chapéu dos pais por que é mais cómodo.
Desde a segunda guerra mundial que não tivemos de nos preocupar com a nossa defesa. Optamos por investir na proteção social, no ambiente e outras prioridades. Defender menos horas de trabalho, mais lazer. Defender que o trabalho não tem de ser uma obrigação mas um prazer. Alimentamos os nem-nem (nem trabalham, nem estudam).
Tudo justíssimo. Sem dúvida uma sociedade desejável. Investindo para que todos os países assegurem condições de vida idênticas em toda a UE.
Mas, agora que precisamos de armas, descobrimos que não há dinheiro para tudo.
O ‘tio Sam’ decidiu pôr a governar ‘a casa’ um chefão que nos tirou o tapete. Ou melhor, apeou-nos antes de chegarmos à estação.
Posto isto, somos obrigados a comprar armas.
A UE provou que, com muito dinheiro, conseguiu que não sentíssemos a dureza do pós Covid-19. Agora vai fazer o mesmo para criar uma defesa militar, autónoma do avozinho americano.
O amigo americano tem todo o direito de gastar o seu dinheiro onde decidir. Tem pago a nossa defesa. É verdade. Interessou-lhe na ‘guerra fria’ com os soviéticos. Mas esse interesse acabou há três décadas. Já não servimos os seus interesses. Acha que não tem de continuar a pagar uma fatura pesada por algo que deixou de ter interesse.
É bom ou mau para a União Europeia? É um desafio novo. Estamos forçados a ser autónomos.
O menino-homem mimado deixou de ter a mesada e a proteção do avozinho. Há quem entenda que vai ser bom para provar que sabemos viver (bem) com a nossa própria capacidade de trabalho. Com a nossa criatividade.
Eduardo Costa, jornalista, presidente da Associação Nacional da Imprensa Regional
(Esta crónica é publicada em cerca de 50 jornais)